sábado, 16 de março de 2013

Ladrões de Bicicletas em Tarde de Cinema


Embora com algum atraso, aqui fica um “post” dedicado ao filme Ladrões de Bicicletas, visionado recentemente na nossa “tarde de cinema”, que foi orientada, como habitualmente, por Margarida Afonso. Para não nos esquecermos da emoção que foi rever esta obra-prima.

Este filme foi realizado por Vittorio de Sica, que também participou no argumento com Cesare Zavattini, em 1948.
Juntamente com Rosselini e Visconti, Vittorio de Sica é um dos representantes mais significativos do Neorrealismo italiano, numa fase que decorreu entre 1945 e 1948.
Este movimento surgiu no final da 2ª Guerra Mundial  como um movimento de resistência, apresentando objectivamente a realidade social como forma de intervenção política. Um intenso conflito no enredo decorre habitualmente da existência de grandes problemas económicos e sociais, sendo essa realidade  apresentada em locais reais e, frequentemente, com pessoas ou actores amadores desconhecidos.
E é isto que se passa precisamente no filme Ladrões de  Bicicletas em que, acompanhando as personagens, vamos percorrendo a Roma dos bairros operários, das igrejas, dos bordéis, das casa de penhores, das salas de videntes, das sociedades recreativas, das organizações operárias, dos interiores sórdidos, dos mercados de rua, da sopa dos pobres, das ruas burguesas e dos restaurantes de classe média. Trata-se de um imenso painel social da cidade, que muito se assemelharia a tantas outras cidades europeias, nesse tempo. Tudo lugares que Zavatini e De Sica visitaram realmente para fazerem pesquisas para este filme.
Uma grande sensibilidade aliada a uma ironia lúcida evidenciam os contrastes de que é tecido o filme, num jogo permanente de oposições: o drama individual de um e a banalidade das conversas que se cruzam ou a frivolidade de um music-hall de bairro; a urgência de uma solução e as propostas da organização operária; a objectividade de uma simples bicicleta aqui e agora e as esperanças de um além promissor ou as profecias de uma vidente; a dura realidade circundante e o “glamour” do cartaz do cinema de Hollywood. Outras diversidades perpassam no filme, como por exemplo as reacções  homem / mulher ou  adulto /criança.
A história acompanha Ricci, o homem que procura desesperadamente a bicicleta que lhe haviam roubado e de que precisa absolutamente para trabalhar. No final, é confrontado pelo dilema: desistir de tudo ou roubar outra bicicleta e sobreviver? A resposta é dolorosa e arrasta consigo a construção de valores, a relação com a família e o julgamento expresso pelo olhar do filho.


Texto: MA e MV

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