Embora com algum atraso, aqui fica um “post” dedicado ao filme Ladrões de Bicicletas, visionado recentemente na nossa “tarde de cinema”, que foi orientada, como habitualmente, por Margarida Afonso. Para não nos esquecermos da emoção que foi rever esta obra-prima.
Este filme foi realizado por
Vittorio de Sica, que também participou no argumento com Cesare Zavattini, em
1948.
Juntamente com Rosselini e
Visconti, Vittorio de Sica é um dos representantes mais significativos do
Neorrealismo italiano, numa fase que decorreu entre 1945 e 1948.
Este movimento surgiu no final da
2ª Guerra Mundial como um
movimento de resistência, apresentando objectivamente a realidade social como
forma de intervenção política. Um intenso conflito no enredo decorre
habitualmente da existência de grandes problemas económicos e sociais, sendo
essa realidade apresentada em
locais reais e, frequentemente, com pessoas ou actores amadores desconhecidos.
E é isto que se passa
precisamente no filme Ladrões de
Bicicletas em que, acompanhando as personagens, vamos percorrendo a
Roma dos bairros operários, das igrejas, dos bordéis, das casa de penhores, das
salas de videntes, das sociedades recreativas, das organizações operárias, dos
interiores sórdidos, dos mercados de rua, da sopa dos pobres, das ruas
burguesas e dos restaurantes de classe média. Trata-se de um imenso painel
social da cidade, que muito se assemelharia a tantas outras cidades europeias,
nesse tempo. Tudo lugares que Zavatini e De Sica visitaram realmente para
fazerem pesquisas para este filme.
Uma grande sensibilidade aliada a
uma ironia lúcida evidenciam os contrastes de que é tecido o filme, num jogo
permanente de oposições: o drama individual de um e a banalidade das conversas
que se cruzam ou a frivolidade de um music-hall de bairro; a urgência de uma
solução e as propostas da organização operária; a objectividade de uma simples
bicicleta aqui e agora e as esperanças de um além promissor ou as profecias de
uma vidente; a dura realidade circundante e o “glamour” do cartaz do cinema de
Hollywood. Outras diversidades perpassam no filme, como por exemplo as reacções homem / mulher ou adulto /criança.
A história acompanha Ricci, o homem que procura
desesperadamente a bicicleta que lhe haviam roubado e de que precisa
absolutamente para trabalhar. No final, é confrontado pelo dilema: desistir de tudo
ou roubar outra bicicleta e sobreviver? A resposta é dolorosa e arrasta
consigo a construção de valores, a relação com a família e o julgamento
expresso pelo olhar do filho.Texto: MA e MV
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