sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Cidade fantástica




Hoje, não foi atrás da linha do horizonte que o sol se pôs.
Para lá da névoa que sobre ela pairava e a esbatia, nuvens baixas e contínuas - silhueta de uma cidade a que tampouco faltavam farrapos-copas  de árvores.
E colado àquela cidade fantástica que nascia da bruma, um enorme lampião, esplendor tão forte que não se conseguia fitar, iluminava-a e, lentamente, desaparecia por detrás do casario.
Uma luz dourada contornou a cidade acentuando os contornos, irrealizou-a ainda mais e o céu foi banhado por tonalidades que o matizavam de vermelho e rosa.
Então, a irrealidade foi total, porque por cima, num oceano azul, calmamente deslizava um cardume conduzido por enorme baleia de cauda levantada, em tons rosados e cinza, seguida de peixes mais pequenos, tanto mais rosados quanto mais perto estavam do dourado que contornava a cidade.
Hoje, ao entardecer, para cá do horizonte a ria não refulgiu. A cidade-fantasma absorveu todo o fulgor do sol.

Maria Herculana
 29/11/2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Coimbra tem mais encanto...



Na verdade, Coimbra encantou... desde o primeiro momento, oferecendo-nos múltiplos encontros com a história,  a arte e  a tradição. 





Coimbra - Mosteiro de Sta Clara-a-Velha


Coimbra tem ainda mais encanto por nos permitir usufruir do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, numa vasta área (cerca de 28 000m2).

Quem visitar este Monumento Nacional pode agora apreciar a ruína, ver a exposição multifacetada do espólio conventual dos séculos XIV a XVII, assistir à exibição de documentários e filmes…


É que a ampla intervenção decorrida entre 1 995 e 2 007  (período em que foi considerado como o maior estaleiro arqueológico medieval europeu), para além de uma complexa escavação arqueológica, compreendeu o restauro do conjunto monástico e um novo centro interpretativo.



Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra: em último plano o Mosteiro de Santa 
Clara-a-Nova no Monte da Esperança, in http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_
de_Santa_Clara-a-Velha
   

À fundação do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra encontra-se associado o nome de uma nobre dama coimbrã, Dona Mor Dias, que, seguindo o apelo da forma de vida proposta por Santa Clara, empreendeu esforços para a instituição da sua casa de clarissas, entretando dificultada por uma acesa contenda com outras ordens religiosas.
A primeira pedra foi lançada, finalmente, a 28 de abril de 1268, perto do convento franciscano (erguido em 1247), fora de portas da cidade, na margem esquerda do rio Mondego.
Com o falecimento da fundadora (1302), o convento herdou os seus bens e rendimentos, mas a contenda prosseguiu e este foi mesmo encerrado.
Mas Dona Isabel de Aragão, piedosa rainha de Portugal, empenhou-se na mediação do conflito, tendo obtido autorização papal para a refundação do convento.
Em 1314, por ordem e devoção da rainha, iniciaram-se as obras da segunda construção, tendo o Mosteiro de Santa Clara sido erguido no local do primitivo do núcleo de monjas clarissas.
As obras, custeadas pela rainha, incluiram novos edifícios em estilo gótico, de que se destacam o claustro e a igreja, sagrada em 1330, e a edificação de um hospital, com cemitério e capela, e um Paço, onde a Rainha Santa Isabel, com o hábito das clarissas, viveu desde a morte de D. Dinis (1325).
O mosteiro da comunidade clarissa desde cedo viu o seu espaço inundado pelo Mondego, com o qual, ciclicamente, mantinha uma luta inglória. Rio paradoxal, de amenas águas e serena face veranil, mas tormentosa e ameaçadora torrente.
E tendo sido este o local escolhido pela rainha para sepulcro, devido à grande cheia de 1331, o seu imponente túmulo foi transferido para uma capela superior, onde permaneceu, virado para o altar mor, até à transferência definitiva das freiras, em 1677, para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, mandado construir, por D. João IV, no vizinho Monte da Esperança.
No séc. XVII, a regularidade das cheias obrigou à construção de um piso superior, tendo as freiras cedido o piso térreo às águas e lodos invasores, que amavelmente preservaram a arquitetura e as esculturas, por mais de 300 anos.
Os últimos trabalhos de escavação finissecular puseram a descoberto um amplo claustro, ornamentado com belas peças escultóricas (de estilo gótico e renascentista), revestido com azulejos polícromos.
As peças recuperadas e expostas no centro interpretativo permitem avaliar a vivência espiritual e temporal da comunidade monástica das clarissas, em clausura, repartidas entre a oração e o recolhimento, os lavores femininos e a assistência aos desvalidos e doentes, mas também espaço de poder e riqueza, sobre o qual ainda paira a ameaça das sequiosas águas do Mondego…
Em 2010, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha foi contemplado com o prémio Europa Nostra, um dos mais importante galardões europeus.

Texto: Mª José Ramos

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Amadeu de Sousa-Cardoso II

Recebemos mais uma contribuição a propósito da celebração do 125º aniversário do nascimento de Amadeu de Sousa Cardoso: um vídeo, do Youtube, com música de Debussy - Iberia.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Amadeu de Sousa Cardoso







Celebram-se hoje os 125 anos do nascimento de Amadeo de Sousa Cardoso.
Amadeu de Souza-Cardoso (1887-1918) foi o percursor da arte moderna em Portugal.
As primeiras experiências do pintor deram-se no desenho, especialmente como caricaturista. Aos 19 anos de idade, mudou-se para Paris, onde conviveu e trabalhou com grandes figuras do meio artístico da época.
Além de Paris, participou nos dois mais importantes eventos da década de 1910 - o Armory Show, em Nova Iorque e o Erster Deutscher Herbstsalon, em Berlim.

A morte prematura aos 30 anos não lhe permitiu afirmar junto do grande público a notoriedade que outros grandes  vultos da pintura vieram a ter, a nível europeu.
Em Portugal, a obra do artista esteve esquecida durante muito tempo, o que o crítico de arte Alexandre Pomar explica da seguinte forma: “Uma forma muito nacional de inferioridade foi menorizando o que se apresentava como mais pessoal e interpretando como influências sofridas (de Modigliani, de Brancusi, por exemplo) o que era cumplicidade e concorrência criativa, ou mesmo influência exercida sobre outros”.
 


















Recentemente, em 2006, a Fundação Gulbenkian realizou uma grande 
exposição do artista, com enorme afluência do público que, pela primeira vez, se apercebeu que era português um dos pintores mais  importantes do modernismo europeu.


Almada Negreiros, contudo, estava já bem consciente, na altura, da importância da obra de  Amadeo e escreveu o seguinte, a propósito da abertura de uma exposição:


domingo, 11 de novembro de 2012

In memoriam




Chegou apenas ontem ao nosso conhecimento a homenagem que a CM de Faro prestou, no passado Dia da Cidade, à nossa colega, Maria Margarida Rodrigues e à qual não nos foi possível associar.
A  dedicação e alegria com que se entregou não só à sua atividade docente, como ainda às artes do palco foram salientadas pelo edil no uso da palavra, depois de descerrada uma placa com o nome da homenageada.
O seu desaparecimento foi uma perda para nós. Presente em muitas atividades associativas, deixou na nossa memória momentos inspiradores como aqueles em que se levantava e convocava a poesia; ou como outros em que causava a nossa admiração pela coragem discreta com que nos acompanhava nas  nossas andanças, sem acusar o cansaço; pela dignidade e amabilidade que sempre revelava.
Aqui fica também a nossa homenagem simples e saudosa. 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bram Stoker, o "pai" de Drácula


Como se celebram hoje os cem anos da morte de Bram Stoker, recebemos o artigo que se segue.
Parece que os vampiros estão cheios de atualidade...


Bram  Stoker é o nome pelo qual ficou conhecido o escritor irlandês Abraham Stoker (Dublin, 8/11/1847) - Londres, 20/04/1912), autor de Drácula.
De saúde frágil e com grande dificuldade de locomoção, passa os primeiros anos da sua vida a ouvir histórias e a ler, quase compulsivamente.
Dotado de uma grande força anímica, frequenta o Trinity College da sua cidade natal e, mesmo com a saúde vulnerável, dedica-se às atividades desportivas.
Desde cedo reconhece a escrita como a grande paixão, que o ambiente académico e intelectual alimenta. Membro ativo da chamada Sociedade Filosófica, aos 16 anos, escreve, com sucesso, o seu primeiro ensaio, intitulado Sensationalism in Fiction and Society. Aliás, posteriormente, viria a presidir à Sociedade Filosófica e a ocupar a função de auditor da Sociedade Histórica.
No ano de 1866, ainda estudante, é admitido no funcionalismo público e passa a trabalhar no castelo de Dublin, enquanto escreve o manual Deveres dos Amanuenses e Escrivães nas Audiências para Julgamento de Pequenas Causas e Delitos na Irlanda.
Em 1870, forma-se em matemática pura, com louvor, e cinco anos depois recebe o grau de mestre. Mas a ficção começou a ocupar-lhe cada vez mais tempo, acabando mesmo por se tornar  a sua principal atividade.
O interesse pelo teatro levou-o a oferecer-se como crítico (sem remuneração) do jornal Dublin Evening Mail. As suas inteligentes críticas impressionam e o seu nome passa a ser dos mais conceituados no meio artístico, social e intelectual da capital irlandesa. Assim, passa a conviver com personalidades influentes, nomeadamente, Óscar Wilde, Arthur Cnan Doyle e William Buttler Yeats.

 As suas incursões pela literatura começam a ser regulares e os seus contos e peças ficcionais publicados em jornais da cidade. The Chain of Destiny foi seu primeiro trabalho na linha do terror sobrenatural, publicado em 1875, no periódico Shamrock.

Em 1878, casa-se com a atriz Florence Balcombe (uma das mulheres mais lindas de Dublin e antes comprometida com Oscar Wilde) e vão ambos viver para Londres, já que Stoker aceitara a oferta do amigo Henry Irving (famoso ator inglês da Era Vitoriana com quem travara amizade em 1876) para administrar o Royal Lyceum Theatre.
Os primeiros anos em Londres foram bastante intensos e produtivos. Além de fazer parte da equipa literária do jornal londrino Daily Telegraph, para o qual escreveu ficção e outros géneros, em 1879 (ano em que nasce, a 31 de Dezembro, Irving Noel Thornley Stoker, único filho do casal), publica The Duties of Clerks of Petty Sessions in Ireland.
Ao serviço da companhia teatral de Irving, a que permanece ligado durante cerca de 30 anos, tem oportunidade de viajar por vários países, apesar de, curiosamente, nunca ter visitado a Europa Oriental, cenário de seu mais famoso romance, Drácula, publicado em 26 de maio de 1897.


Apesar de continuar com a sua atividade literária, nenhuma outra obra se aproximou do sucesso que atingira, podendo mesmo dizer-se que a carreira e a vida pessoal começam a declinar a partir daí. O Lyceum e o seu acervo de adereços cénicos são destruídos por um incêndio e o teatro, em condições precárias, é transferido para um sindicato, mas encerra definitivamente suas atividades em 1902.
Em 1905, Henry Irving morre e, no mesmo ano, Stoker sofre um derrame cerebral e contrai a doença de Bright (que afeta o funcionamento dos rins). Gradativamente, a sua saúde deteriora-se. Ainda assim, em 1906, com grande esforço, faz questão de publicar, em homenagem ao amigo de longa data e sócio, Personal Reminiscences of Henry Irving, e, posteriormente, mais duas obras.
 Da sua bibliografia fazem ainda parte títulos como Under the Sunset, uma coletânea de contos infantis, editada em 1882, The People, (1889), O Castelo da Serpente (1891), The Watter´s Mou e Croken Sands (1894), The Shoulder of Shasta (1895), Miss Betty (1898),  A jóia das sete estrelas (1903),  The Man (1904), O Caixão da Mulher-Vampiro (1909) e O Monstro Branco, o seu último romance, de 1911.
Depois de sofrer uma série de derrames cerebrais, morre no dia 20 de abril de 1912, na  cidade de Londres, tendo as suas cinzas sido depositadas numa urna no Crematório de Golders Green.
O nome de Abraham “Bram” Stoker figura na literatura mundial, tendo a obra Drácula ficado inscrita como a principal no desenvolvimento do mito literário moderno do vampiro.
O seu sucesso parece residir na rara combinação entre uma trama extremamente bem construída, personagens fortes e um tema mórbido e lúgubre. Resultado de uma prodigiosa imaginação e de vários anos de pesquisa do folclore europeu e das histórias mitológicas de vampiros, aborda a trajetória do diabólico Conde Drácula, da Transilvânia até Inglaterra e é pautado ainda por personagens célebres, como Jonathan Harker e Abraham Van Helsing.
O sucesso do livro, permeado pelo horror tétrico e sobrenatural, foi imenso, resultando em adaptações para teatro, cinema, séries televisivas e banda desenhada, e tornou-se fonte inspiradora de ficção, até aos nossos dias.


“O amor é mais forte que a morte.”in Drácula"

M.J.R.