Coimbra tem ainda mais
encanto por nos permitir usufruir do
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, numa vasta área (cerca de 28 000m2).
Quem visitar este Monumento
Nacional pode agora apreciar a ruína, ver a exposição multifacetada do espólio
conventual dos séculos XIV a XVII, assistir à exibição de documentários e filmes…
É que a ampla intervenção
decorrida entre 1 995 e 2 007 (período
em que foi considerado como o maior estaleiro arqueológico medieval europeu),
para além de uma complexa escavação arqueológica, compreendeu o restauro do
conjunto monástico e um novo centro interpretativo.
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra: em último plano o Mosteiro de Santa
Clara-a-Nova no Monte da Esperança, in http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_
Clara-a-Nova no Monte da Esperança, in http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_
de_Santa_Clara-a-Velha
À fundação do Mosteiro de
Santa Clara de Coimbra encontra-se associado o nome de uma nobre dama coimbrã,
Dona Mor Dias, que, seguindo o apelo da forma de vida proposta por Santa Clara,
empreendeu esforços para a instituição da sua casa de clarissas, entretando
dificultada por uma acesa contenda com outras ordens religiosas.
A primeira pedra foi lançada,
finalmente, a 28 de abril de 1268, perto do convento franciscano (erguido em
1247), fora de portas da cidade, na margem esquerda do rio Mondego.
Com o falecimento da fundadora
(1302), o convento herdou os seus bens e rendimentos, mas a contenda prosseguiu
e este foi mesmo encerrado.
Mas Dona Isabel de Aragão,
piedosa rainha de Portugal, empenhou-se
na mediação do conflito, tendo obtido autorização papal para a refundação do convento.
Em 1314, por ordem e devoção da rainha, iniciaram-se as obras da segunda
construção, tendo o Mosteiro de Santa Clara sido erguido no local do primitivo do núcleo de monjas clarissas.
As obras, custeadas pela rainha, incluiram novos edifícios em estilo
gótico, de que se destacam o claustro e a igreja, sagrada em 1330, e a edificação de um hospital, com cemitério e
capela, e um Paço, onde a Rainha Santa Isabel, com o hábito das clarissas,
viveu desde a morte de D. Dinis (1325).
O mosteiro da comunidade
clarissa desde cedo viu o seu espaço inundado pelo Mondego, com o qual,
ciclicamente, mantinha uma luta inglória. Rio paradoxal, de amenas águas e
serena face veranil, mas tormentosa e ameaçadora torrente.
E tendo sido este o local
escolhido pela rainha para sepulcro, devido à grande cheia de 1331, o seu
imponente túmulo foi transferido para uma capela superior, onde permaneceu,
virado para o altar mor, até à transferência definitiva das freiras, em 1677, para
o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, mandado construir, por D. João IV, no vizinho
Monte da Esperança.
No séc. XVII, a regularidade
das cheias obrigou à construção de um piso superior, tendo as freiras cedido o
piso térreo às águas e lodos invasores, que amavelmente preservaram a
arquitetura e as esculturas, por mais de 300 anos.
Os últimos trabalhos de
escavação finissecular puseram a descoberto um amplo claustro, ornamentado com
belas peças escultóricas (de estilo gótico e renascentista), revestido com
azulejos polícromos.
As peças recuperadas e
expostas no centro interpretativo permitem avaliar a vivência espiritual e
temporal da comunidade monástica das clarissas, em clausura, repartidas entre a
oração e o recolhimento, os lavores femininos e a assistência aos desvalidos e
doentes, mas também espaço de poder e riqueza, sobre o qual ainda paira a
ameaça das sequiosas águas do Mondego…
Em 2010, o Mosteiro de Santa
Clara-a-Velha foi contemplado com o prémio Europa Nostra, um dos mais
importante galardões europeus.
Texto: Mª José Ramos
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