sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tarde de Cinema com Billy Elliot



As atividades de 2013 arrancaram com a Tarde de Cinema, tendo sido exibido o filme Billy Elliot, de Stephen Daldry (Reino Unido, 2000), apresentado, como habitualmente, pela professora Margarida Rosa Afonso.
A história passa-se na cidade mineira de Durham em 1984, durante a greve de mineiros,  no governo de Margareth Tatcher. A situação difícil e as tensões subsequentes  são o pano de fundo da luta de um rapaz de onze anos  pela realização de um sonho.
O realizador (o mesmo dos filmes As Horas e O Leitor, entre outros) apresenta com realismo a situação económica, cultural e moral da comunidade onde se insere uma família que, por sua vez, vive problemas acrescidos pela falta da mãe e pela velhice e incapacidade mental da avó.
Daldry, exímio em modelar personagens, vai dando a conhecer  os elementos desta família onde se destaca o mais novo de dois irmãos, Billy, cujo talento e paixão pela dança o colocará no meio do conflito entre os preconceitos e os estereótipos culturais (defendidos acerrimamente pelo pai) e a necessidade imperiosa de se afirmar como artista e de se realizar como pessoa.
Numa comunidade fechada  do interior norte inglês, o aforismo “Boys don’t dance” é lei indiscutível. Contudo...
Evitando cair em maniqueísmos, Daldry não acusa : leva o espetador a rejeitar  comportamentos mas, ao mesmo tempo, a compreendê-los, numa atitude de tolerância que as personagens vão adotando  também entre si. Apesar do confronto, por vezes até violento, entre os seus membros, a família acaba por constituir a rede de solidariedade  e de afetos geradora de aceitação e de crescimento.
O papel da professora de dança, Mrs Wilkinson, é determinante: também ela em circuntâncias psicológicas   aparentemente adversas, é quem leva Billy a tomar consciência do seu talento e da necessidade de se afirmar através dele, em oposição ao preconceito e aos valores sexistas vigentes no contexto familiar e social, contribuindo assim, não só para o seu crescimento pessoal, mas também, através dele, para a transformação dos valores da comunidade no seu conjunto. Tudo isto sem paternalismos, sem cedências, numa atitude de rigor e de sóbria generosidade.
Nota final: o filme é valorizado por uma excelente banda sonora e por uma montagem muito conseguida, usando expressivos planos alternados, com a personagem em diferentes contextos. Embora a filmagem recuse  artifícios que contrariem a sobriedade requerida, a câmara vai acompanhando as coreografias de Billy, num movimento de aproximação e de afastamento, como se de uma dança também se tratasse, até ao voo final, no palco da consagração.

Um agradecimento à Margarida, não só pela escolha do filme mas também pela maneira de o ver.