Olho o areal quase despovoado – pequenos grupos de jovens aproveitam o
sol de Outono e alguns pescadores prendem as canas nos suportes cravados perto
da água.
Apetece-me fazer uma caminhada na praia. Descalço os sapatos e agrada-me
enterrar os pés na areia morna. Minúsculos projécteis trazidos por bruscas e
breves rajadas de um ventinho brincalhão, agridem-me a cara e ficam colados aos
lábios.
Aos poucos, quase insensivelmente, aproximo-me da beira-mar. Andar na
areia molhada, mesmo à beirinha da rebentação das ondas, é um prazer.
O mar banha-me os pés
– é uma água fresca e revigorante que vai e vem - brinca comigo. A maré está a
encher. Não dobrei as calças - molharam-se na extremidade. Não faz mal – secarão.
A areia mole, frouxa, dificulta o caminhar. Afasto-me da água e sento-me
numa trave de madeira, mais acima.
E deixo-me entranhar – pela cor do mar, pelo
vento, pelo fragor das ondas, que não consente outros sons que não os da
natureza. E fico-me a contá-las: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete... –
seis pequenas e uma grande, como dizíamos quando era criança – quase funciona!
O mar, ainda não limpo dos temporais recentes, tem uma cor indefinida: amarelo?
verde? cinza?. As ondas enrolam-se iradas, mas espraiam-se languidamente,
suavemente. O mar não bate na areia – lambe-a, acaricia-a, estende-se, alonga-se
e desliza sobre ela.
Em certas zonas, enormes
manchas de espuma pelo mar dentro. Por vezes, do encontro de duas ondas em
rebentação, nascem árvores de flores brancas. Efémeras…
Regresso e fico numa esplanada junto ao
areal desfrutando, ainda, aquele vastíssimo espaço – céu e mar unidos pela
linha do horizonte. As ondas formam-se próximo da praia e, para lá delas, o mar
calmo tem uma quase definida cor azul que reflecte o azul aguado do céu.
Apetece-me encher os olhos da imensidão e
respirar sofregamente a maresia que o vento traz, para as transportar comigo no
regresso a casa.
Maria Herculana
25/10/2011
Maravilloso relato...todos hemos sentido esas sensaciones junto al mar, pero saber transmitirlas es el mérito del escritor;en este caso de María. Parabens
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