quarta-feira, 23 de maio de 2012

Memórias com música dentro


    Diane Mannion, Street Music
     De manhã, ainda cedinho, gostava de descer pela ladeira que me levava diretamente ao largo da Meia Laranja, antecipando o prazer dos minutos que iria ali passar.
    No fresquinho da manhã, algumas pessoas ocupavam já as cadeiras das esplanadas e os bancos do jardim, debaixo das árvores.
    O silêncio apenas era quebrado pelo músico do dia.
    Podia ser um homem que já passara a meia-idade vestido à anos 60 de sapatos brancos de biqueira preta, a tocar saxofone ou um jovem estrangeiro que tinha um sorriso tão lindo como os maravilhosos sons que extraía da guitarra elétrica.
    As pessoas quedavam-se estáticas e silenciosas a ouvi-los.
Na frescura e silêncio da manhã, naquele grande largo, a música difundia-se sem barreiras e ficava a pairar entre nós e o azul do céu, penetrando-me nota a nota, lavando-me a alma e transmitindo-me um tal estado de leveza que o meu pensamento vagueava sem destino.
    Quando começava assim o dia, tudo me parecia mais simples e até as pequenas contrariedades deixavam de ter importância.
    Era com se me carregasse de uma porção extra de otimismo e bem-estar.

Maria Herculana         
Verão de 2002

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