Naquela tarde, displicentemente,
aproximou-se da janela para, mais uma vez, apreciar o deslumbramento do pôr-do-sol,
único, irrepetível, surreal por vezes, de cores inimagináveis sempre.
Ao fundo, uma linha sobre a ilha, rente à
ilha, a quase todo o comprimento da ilha - uma ligeira fímbria de sol, rubro,
fornalha acesa que quase se sentia crepitar, duma cor tão forte que se diria
irreal.
Toda a ria tingida da cor sangue – um
desmedido sacrifício oferecido aos deuses como gratidão por toda aquela beleza.
No céu azul, à esquerda, começavam as
nuvens a encastelar-se caprichosamente - eram montanhas de algodão, cor de fogo
e cinza duma ponta à outra do céu, mais volumosas, cada vez mais volumosas,
largando fiapos, rastos de pequenos fiapos e, finalmente, carneirinhos
avermelhados cobrindo o resto do céu muito azul que ia, aos poucos, desmaiando
até ficar líquido, translúcido, quase branco.
O conjunto era de uma esmagadora
harmonia, de uma beleza tão perfeita, tão avassaladora, que gostaria de poder
guardar para sempre esta imagem. Além de fugaz, não haveria uma segunda
oportunidade de se maravilhar com ela.
Faro, 06/04/2012
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