Regressei
do jantar da nossa Associação, na Casa do Professor, com a alma cheia daquele
paisagem linda que se estende da serra à ria.
Apesar
do vento ter querido sabotar o acontecimento, não teve outro remédio se não
acalmar perante a nossa persistência e a noite estava quase calma, quando voltámos
ao terraço para “ver as estrelas”.
Fiquei
a observar as luzes que surgiam na escuridão e isso levou-me aos meus tempos de
jovem.
Sempre
gostei da noite. Quando estudante ou se tenho de realizar qualquer trabalho, é
a noite e não a madrugada que me rende.
Passear
à noite, o sossego da noite, a quietude das noites de Albufeira, quando o silêncio
era tão absoluto, a partir de certa hora, que se podia ouvir o rumor do mar que
saía do túnel ao fundo da rua onde morava quando menina e moça.
Então,
às vezes, quando todos dormiam, ia para a varanda que havia no meio do quintal,
deitava-me de costas e ali ficava, a mirar as estrelas no negro do céu, a ouvir
o mar, o sussurro do vento nas folhas e a pensar.
Naqueles
momentos só existia eu - eu e a noite. Dos tais momentos inesquecíveis.
A
certa altura, era como se o meu corpo deixasse de me pertencer.
Numas
vezes como se se diluísse e fizesse parte de tudo o que me rodeava. Era o
bem-estar absoluto.
Noutras
o sangue latejava e eu sentia como se estivesse a absorver uma força vivificadora.
Era muito estranho, mas sempre agradável - um sentir quase místico.
É
corrente, em literatura, atribuir à noite o mau, o negativo, associado à
maldade da alma humana, que Mozart quis caracterizar na Rainha da Noite - símbolo
do pior lado das criaturas.
Eu não a
sentia assim.
Pelo
contrário - era na noite, que descia sobre mim algo de
muito forte e purificador, como se atravessasse uma câmara de vitalidade física,
mental e espiritual.
Recordação
inolvidável, que a nossa Associação me trouxe de volta.
Maria
Herculana
13/7/2013