Retomamos a actividade bloguística num dia de chuva, com um texto cuja autora, num outro dia mais risonho, se dispôs a aproveitar o verão até à última gota.
Foto MV
Manhã
de final de Verão.
A
cidade está estranhamente silenciosa. É um silêncio de cristal que me transmite
a sensação de caminhar num mundo quase irreal. Os meus gestos, o meu ritmo
foram amortecidos por este silêncio, inusual a esta hora.
Os
ruídos inesperados que ouço são uma invasão intolerável.
O
céu está azul e há uma luminosidade ofuscante, quase agressiva no ar -
contrastante com a quietude do som.
Coloco
os óculos escuros e assim, amortecidas as cores, tudo parece mais irreal.
Continuo
o regresso por diferentes caminhos dos que tomei ao sair.
A
cidade é um labirinto de calçada irregular, que a fina sola dos sapatos deixa
sentir.
Decido
ir até à ilha.
Sento-me
numa esplanada virada para o mar.
Uma
leve aragem contorna-nos, envolve-nos, acaricia-nos.
Escuto
o regular rumorejar das ondas - ondinhas que se formam ali mesmo - o mar está
sereno e calmo, levemente encrespado pela tal brisa outonal que o lambe também.
Fecho
os olhos e fico ouvindo o som da rebentação das ondas desfazendo-se na areia a intervalos regulares. Mentalmente
conto uma... duas... três... quatro... cinco... e outra e outra e outra.
O
tic-tic dos saltos dos sapatos de alguém que chegou à esplanada é um som não
dissonante - invasivo, mas não dissonante.
Viro
a cara para o sol e recordo a frase de um filme "As plantas precisam de
sol, os animais precisam de sol, nós precisamos de sol".
E
como é agradável senti-lo na pele, sem a agressividade do Verão, amenizado pela
brisa.
Então,
penso “É um enorme privilégio viver, assim, à beira-mar, poder usufruir o que
de melhor a natureza nos oferece e vivenciar a mudança das estações, numa
esplanada junto à praia”.
2013.10.15
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