Decorreu há poucos dias a sessão de apresentação do livro Página móvel com texto
fixo, de Adão Contreiras, edição 4Águas, com prefácio de Fernando Esteves Pinto.
O
autor, até agora mais conhecido no meio das artes plásticas e visuais,
surpreende-nos com esta escrita em que
as palavras são sujeito e objecto, irrompendo espontaneamente, sondando
o mistério da sua (nossa) génese e sentido.
… São como
fósforos
acendendo-se na
mente
as palavras que
nascem
involuntárias
penso
Em
cento e um « parágrafos », as palavras de AC interpelam o universo. Nomeiam coisas tão concretas,
como sol, terra, pão, luz, chão. Convocam emoções e ideias como
espaço, tempo, amor, memória, crença,
pensamento. E transcendência.
As
palavras interrogam. Dialogam. São uma âncora numa realidade em constante
mudança.
Estão
mortas no dia a dia e vivem no pensamento dos poetas, diz o autor.
Mas
nestes « parágrafos », as palavras também são matéria lúdica, ironizando, por vezes rimando,
outras fazendo negaças, outras ainda produzindo sons que se repetem, tudo para
brincar, quando estão bem dispostas.
Algumas
são suspeitas: os adjectivos, por
irromperem da fraqueza da escrita.
Contudo, as palavras agradecem -lhes o agasalho, como bem se explica num « parágrafo » mais à
frente :
(…)
Isso é uma espécie de manto ou véu brilhante
que se põe por cima das palavras.
E porquê ?
Ora, porque as palavras às vezes têm frio e outras vezes têm calor
penso
As
palavras são um corpo. Por vezes entre parênteses…
As
palavras de Adão Contreiras pensam e pensam-no. Pensam-nos.
Pegando
no Décimo segundo parágrafo, para terminar : existir é pensar o universo.
Mesmo que ele não pense em nós.
Marcela Vasconcelos
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