terça-feira, 9 de março de 2010

Alentejo - Novembro 2009



Este velho hábito de deambular por aí, à procura de lugares que nos surpreendam (não tanto pela novidade em si, mas por renovados pontos de vista com que os observamos), levou-nos, desta vez, ao Nordeste Alentejano.
Embora o tempo se apresentasse mais para o chuvoso, o sol, de quando em vez, aparecia para iluminar, oblíquo, esplêndidas paisagens outonais. Uma festa para os olhos, estes bosques de freixos, carvalhos e castanheiros. Dominam os amarelos e avermelhados, espaçados por muitas outras gamas de cores.
À medida que vamos entrando no coração da Serra de S. Mamede, as ondulações suaves de montado ora se afundam em vales viçosos, ora se erguem em penhascos agrestes.
Aproximando-nos de Portalegre, impossível não lembrar José Régio e a sua “toada”, muito bem lida pela Fernanda Pinguinha (depois de um pequeno incidente que não vem ao caso):

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
(…)


Nesta cidade, optámos por uma visita ao Museu de Tapeçaria Guy Fino. É inacreditável a perfeição e riqueza cromática do ponto de Portalegre! Mas é talvez esta a explicação para a quantidade de artistas notáveis (nacionais e estrangeiros) que têm assinado obras para esta manufactura.
De Castelo de Vide fica a imagem do casario branco galgando as encostas do castelo, das expressivas texturas da cal, das inúmeras portas góticas. Não fosse Outono e as fachadas ostentariam risonhos vasos de flores. Fica o mistério de ruelas sinuosas que escondem segredos, memórias judaicas. São histórias de Inquisição mas também são histórias de tolerância. A Fonte da Vila lá está ainda, fonte de vida e símbolo de boa convivência entre judeus e cristãos.
Finalmente, Marvão. Dita inexpugnável, lá no cimo da escarpa, constitui um conjunto de fortalezas que se foram sobrepondo para responder a novas necessidades defensivas. Dir-se-ia que lá no alto só encontraríamos o vento e a rocha… Na verdade, o que nos esperava era uma vila em festa, o grande magusto que ali se realiza todos os anos.
O vento forte eleva o fumo das castanhas assadas, mistura os cheiros dos petiscos, as vozes, os sons dos inúmeros grupos musicais que percorrem as ruas. Fica saborosa, a vila! Habitualmente é habitada apenas pelo silêncio recolhido das suas memórias.
Vista do interior, Marvão surpreende pelo aconchego do casario, de um branco irrepreensível, pela beleza de recantos e pormenores arquitectónicos, pela força protectora das suas muralhas.
Subimos à torre: a lonjura a perder-se na bruma lembra-nos episódios de vida de fronteira, histórias de contrabando. Tempos difíceis esses, em que este era o sustento de muitas famílias.
“O tempo mora aqui”. Nós é que não…Temos de regressar.
Mas trazemos a memória povoada de cores, sons, sabores e risos (muitos!).

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