As atividades de 2013 arrancaram com a Tarde de Cinema, tendo sido
exibido o filme Billy Elliot, de Stephen Daldry (Reino Unido, 2000),
apresentado, como habitualmente, pela professora Margarida Rosa Afonso.
A história passa-se na cidade mineira de Durham em 1984, durante a
greve de mineiros, no governo de Margareth Tatcher. A situação difícil e as tensões subsequentes são o pano de fundo da luta de um rapaz de onze anos pela realização de um sonho.
O realizador (o mesmo dos filmes As Horas e O Leitor, entre outros)
apresenta com realismo a situação económica, cultural e moral da comunidade
onde se insere uma família que, por sua vez, vive problemas acrescidos pela
falta da mãe e pela velhice e incapacidade mental da avó.
Daldry, exímio em modelar personagens, vai dando a conhecer os elementos desta família onde se
destaca o mais novo de dois irmãos, Billy, cujo talento e paixão pela dança o
colocará no meio do conflito entre os preconceitos e os estereótipos culturais
(defendidos acerrimamente pelo pai) e a necessidade imperiosa de se afirmar como
artista e de se realizar como pessoa.
Numa comunidade fechada do
interior norte inglês, o aforismo “Boys don’t dance” é lei indiscutível.
Contudo...
Evitando cair em maniqueísmos, Daldry não acusa : leva o espetador
a rejeitar comportamentos mas, ao
mesmo tempo, a compreendê-los, numa atitude de tolerância que as
personagens vão adotando também entre si. Apesar do confronto, por vezes até violento, entre os seus
membros, a família acaba por constituir a rede de solidariedade e de afetos geradora de aceitação e de
crescimento.
O papel da professora de dança, Mrs Wilkinson, é determinante: também
ela em circuntâncias psicológicas
aparentemente adversas, é quem leva Billy a tomar consciência do seu
talento e da necessidade de se afirmar através dele, em oposição ao preconceito
e aos valores sexistas vigentes no contexto familiar e social, contribuindo
assim, não só para o seu crescimento pessoal, mas também,
através dele, para a transformação dos valores da comunidade no seu conjunto. Tudo isto sem
paternalismos, sem cedências, numa atitude de rigor e de sóbria generosidade.
Nota final: o filme é valorizado por uma excelente banda sonora e por
uma montagem muito conseguida, usando expressivos planos alternados, com a
personagem em diferentes contextos. Embora a filmagem recuse artifícios que contrariem a sobriedade
requerida, a câmara vai acompanhando as coreografias de Billy, num movimento de
aproximação e de afastamento, como se de uma dança também se tratasse, até ao
voo final, no palco da consagração.